24 julho 2015

Pan-Americano 2015: Brasil perde nos pênaltis na semifinal para o Canadá no hóquei de grama e irá disputar a medalha de bronze

Pode uma seleção se sentir vencedora e orgulhosa com uma derrota? É difícil imaginar isso no esporte. Ainda mais na cultura brasileira. Mas o time de hóquei sobre grama tem esse direito. Nesta quinta-feira, o Brasil perdeu para o Canadá na semifinal dos Jogos Pan-Americanos apenas nos shootouts, uma espécie de penalidade em que os jogadores avançam em direção ao gol para um mano a mano com o goleiro, após o empate por 0 a 0 no tempo normal. Do outro lado estava uma das principais seleções do mundo. Ouro no Pan de 2007 e prata no último, em Guadalajara. Quarta colocada na Liga Mundial deste ano. Era quase um duelo entre Davi e Golias já que o hóquei sobre grama no Brasil é praticamente amador. Só passou a receber investimentos nos últimos cinco anos. E todos os 16 jogadores da seleção tem uma segunda profissão. Jogam por amor ao esporte. E pelo sonho de disputar uma Olimpíada, objetivo conquistado com a bela campanha em Toronto.

- Saio de campo orgulhoso do meu país, orgulhoso dos 16 jogadores desse time. Acho que esse grupo resgatou o espírito brasileiro de raça, entregou a vida dentro de campo. Não importa se a gente ganhou ou perdeu. Acho que fizemos história aqui. Colocamos o Brasil no mapa do esporte. Lógico que estamos tristes com o resultado. Mas todos estão de cabeça erguida - disse Paulo Batista.

O fato de o Brasil ter levado a partida para as penalidades já mostra a evolução de um time formado há pouco tempo. Com uma média de idade de 24,5 anos, todos os jogadores brasileiros precisam ter outras fontes de renda além do hóquei para se manter.

- Aqui todo mundo trabalha ou estuda. Vários estudam. Os que trabalham são profissionais liberais, são professores de educação física, trabalham em academia. Então conseguem conciliar. Os meninos compraram a ideia, aceitaram o desafio. Conversamos no ano passado e fechamos nosso projeto. Não seria um sacrifício porque todo mundo está fazendo o que gosta. E era um sonho jogar estar nas Olimpíadas. Joguei na seleção na época em que cada jogador pagava as suas despesas para estar em uma competição. E faria tudo de novo - explica o técnico Claudio Rocha destacando a importância do apoio recebida pelo esporte nos últimos anos.

Hoje, o hóquei tem o apoio do Comitê Olímpico do Brasil através da Lei Piva. E a confederação fechou um convênio com o Ministério do Esporte para viabilizar os treinamentos na Europa nos últimos quatro meses. Desde o dia 5 de março, o grupo está longe do Brasil treinando e fazendo intercâmbio por diversos países.

- Neste Pan estamos fazendo história. Esse placar já é histórico para a gente. Conseguimos empatar com uma das melhores seleções do mundo. Esse jogo não foi uma derrota - disse André Patrocínio.

O Brasil atingiu seu objetivo no Pan ao vencer os EUA nas quartas de final e garantir a inédita e histórica classificação para as Olimpíadas do Rio, em 2016. Agora, a seleção vai disputar a medalha de bronze no próximo sábado. Na outra semifinal, a Argentina venceu o Chile com facilidade por 6 a 0.

O jogo

O Brasil pode não estar ainda no nível das grandes potências do esporte. Mas demonstra uma vontade de vencer de contagiar e orgulhar qualquer brasileiro. Contra o Canadá foi, mais uma vez, assim. Uma seleção aguerrida. Uma seleção incansável. Uma seleção que correu o tempo inteiro. Os brasileiros não tinham a técnica dos canadenses. Não tinham a experiência tática. Nem a tradição em um esporte que é pouco conhecido no país. O Canadá conquistou a medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de 2007. Foi prata em 2011. É uma das forças nas Américas. Mas no campo resistiram a pressão dos rivais.

Desde o primeiro minuto, ficou claro que o Canadá ficaria mais tempo com a posse de bola. Apoiado pela torcida, os canadenses imaginavam que teriam pela frente uma partida tranquila. Afinal, na primeira fase venceram por 9 a 1 a seleção brasileira. Mas o tempo foi passando. E o Brasil demonstrava que não seria um mero coadjuvante em campo. No fim do primeiro quarto, a seleção teve a única real chance de marcar um gol. Mas o goleiro David Carter fez a defesa.

No resto do tempo o que se viu foi o Brasil fechado na defesa e tentando, sem muito sucesso, um contra-ataque daqueles salvadores. Não teve sucesso. Mas também não sucumbiu ao ataque canadense. O goleiro Faustino foi mais uma vez gigante. Fez quatro grandes defesas. O Canadá ainda teve três chances de marcar em escanteios curtos, uma jogada em que o ataque fica com mais jogadores do que a defesa. Mas não conseguiu. E a partida terminou empatada após os 60 minutos. Era hora dos shootouts, uma espécie de penalidade em que os jogadores avançam na direção do goleiro para fazer o gol. Cinco cobranças para cada lado.

Ajoelhado no chão, o brasileiro Paulo Batista rezou. Isolado no fundo do campo, sozinho, Faustino sonhava mais uma vez ser o herói brasileiro. O Canadá abriu a série com Mark Pearson. Fez o gol. Yuri não ficou atrás e empatou para o Brasil. Devohn Teixeira também marcou o segundo para o Canadá. Patrick van der Heijden empatou. Sukhi Panesar fez o terceiro para os canadenses. Luis Felipe foi para a terceira cobrança brasileira e perdeu. Gordan marcou o quarto do Canadá. Stephane Smith fez para o Brasil: 4 a 3. Adam Froese fez o quinto e garantiu a vitória canadense.

Fonte: globoesporte.com

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