14 setembro 2010

Mundial de Basquete Masculino 2010: EUA calam a Turquia, faturam o ouro e retornam ao topo; Brasil agradece

Título de Durant & Cia encerra jejum de 16 anos em Mundiais e ajuda seleção verde-amarela, que não precisará enfrentar os americanos no Pré-Olímpico. Não basta cantar, pular, vibrar e colorir as arquibancadas de vermelho. Ali dentro da quadra, a receita é outra. Para chegar ao topo do mundo no basquete, é preciso, antes de qualquer outra coisa, dominar aquela esfera laranja com listras amarelas e a inscrição Fiba em letras pretas. Foi o que fez a seleção dos Estados Unidos ao longo de nove partidas no Campeonato Mundial de 2010. Na decisão deste domingo, caiu a última barreira: a valente Turquia, empurrada por uma torcida fanática. Por ironia, coube justamente ao time B dos americanos a missão de recuperar o prestígio do país. Com a vitória por 81 a 64, eles conquistam o ouro, interrompem um jejum que já durava 16 anos e, de quebra, dão uma forcinha para o Brasil. Brasil? Explica-se: o título mundial assegura aos EUA a classificação para os Jogos de Londres-2012. Com isso, a seleção brasileira terá apenas a Argentina como rival de peso na disputa das duas vagas no Pré-Olímpico de Mar Del Plata, em 2011. Aí, por sinal, temos outro jejum em pauta: o da equipe verde-amarela, que não vai ao maior evento esportivo do planeta desde 1996. Naquele ano, Oscar ainda chutava suas bolas de três. E ele estava lá neste domingo, no centro da quadra do ginásio Sinan Erdem, em Istambul. No intervalo, foi muito aplaudido ao receber a justa homenagem pelo ingresso no Hall da Fama da Fiba. Depois, viu os americanos executando os turcos para pendurar mais um ouro no peito. Sob o comando de Durant. O último dos três títulos mundiais dos EUA tinha sido no Canadá, em 1994. Desta vez, para chegar ao tetra, um garoto de 21 anos resolveu a parada. Kevin Durant, ala do Oklahoma City, brilhou de novo na decisão, com 28 pontos, e colocou um ponto de exclamação na campanha perfeita do seu país. No fim das contas, o momento de maior risco foi contra o Brasil, na vitória apertada por apenas dois pontos, ainda na primeira fase. Os turcos contaram com 16 pontos de Hedo Turkoglu, mas fizeram pouco além disso. Os americanos viram o veterano Lamar Odom contribuir com 15 pontos e 11 rebotes, além de Russell Westbrook com 13 e seis. Mas o jogo teve nome e sobrenome: Kevin Durant. Foi o jovem ala que puxou a fila desde o início. O primeiro a entrar em quadra para o aquecimento. Queria jogo. Para os anfitriões, vê-lo no chão, só mesmo durante o alongamento que faz religiosamente no centro da quadra. Quando a coisa é para valer, o craque cresce. Alheio às vaias, Durant fez rapidinho oito pontos só para marcar presença. E ela era incômoda. Um Ilyasova sem a máscara protetora tentou freá-lo, mas não conseguiu. Gonlum e Asik herdaram a missão. Mas o camisa 5 ajudava os EUA no ataque e na defesa, que só deixou a Turquia tomar o comando do placar (15 a 14) graças a dois arremessos longos consecutivos de Turkoglu. Depois disso, o jogador predileto da torcida sentiu dores no joelho direito e deixou a quadra mancando. Testas franzidas. E com razão. Sem o turco que estava fazendo a diferença, era o momento para os americanos sufocarem o adversário na defesa e começarem a construir uma boa frente. Primeiro foi o toco de Durant. Logo em seguida, dois ataques perdidos no estouro dos 24 segundos. Começava ali a arrancada: 22 a 17 ao fim do primeiro quarto. A vantagem subiu para oito pontos no início do segundo período, sem a participação de Durant, que andava sumido. Apareceu de novo depois ver uma bola que conduzia ser roubada pelo rival. Na ânsia de recuperá-la, foi ao chão. Era o bastante para ele. Dali em diante, mesmo com Turkoglu de volta, o americano anotou nove pontos seguidos. Os companheiros aplaudiam e respiravam (34 a 24). Algo que do outro lado estava começando a ficar difícil. Os comandados do técnico Bogdan Tanjevic mostravam sinais de cansaço diante de um jogo tão veloz apresentado pelo rival. Turkoglu não escondia a cara de dor. E o ginásio Sinan Erdem já não tinha o fôlego habitual para cantar. Com as fisionomias preocupadas e perdendo por 42 a 32, o time foi para o vestiário. Terceiro quarto encerra a história. Na volta, quando piscou o olho, o time da casa já estava 18 pontos atrás. Ficou quatro minutos sem conseguir chegar à cesta. Mas Durant continuava sabendo direitinho o caminho. Foram duas bolas de três seguidas, e a cara de mau deu lugar a um grande sorriso. Talvez porque já soubesse que, naquele momento, a medalha de ouro tinha dono. Só que Ender Arslan não tinha a mesma certeza. Com a mão certeira do perímetro, ele reacendeu sua equipe e o ginásio. Ainda assim, os Estados Unidos se mantiveram à frente na virada para os últimos dez minutos: 61 a 48. Eram melhores no rebote e não perdoavam no ataque. No sacrifício, numa tentativa de mudar o final daquela história que não seguia o script, Turkoglu atendeu ao chamado de Tanjevic. Deixou o banco, encarou os americanos, mas não conseguia fazer muito. Até porque eles pareciam estar em todos os lugares. Quando não era Durant, era Lamar Odom, ou Derrick Rose, ou Russell Westbrook, ou Andre Iguodala, um voando mais que o outro. Àquela altura, Durant aproveitava para passar os olhos pela arquibancada. Já congelava na memória o dia em que conseguiu silenciar torcedores tão apaixonados. E viu também quando eles reforçaram o amor por seus 12 gigantes, mesmo diante da única derrota no Mundial. A 2m07s do fim, ficaram de pé, aplaudiram seus heróis e cantaram, mais uma vez, o nome do país. Quando tocou a sirene, o que a torcida viu foi um amontoado de americanos de uniforme azul-marinho no centro da quadra. Assim como tinha acontecido nas arquibancadas nas últimas duas horas, eles pularam, dançaram, gritaram e festejaram. São campeões mundiais.

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